Rússia pede a jogadores cuidado com carne e que não fumem narguilé
Envolvida em um grande esquema estatal de doping nos esportes olímpicos, a Rússia quer a qualquer custo evitar que jogadores da seleção de futebol sejam flagrados em exames e manchem ainda mais a imagem do país anfitrião da Copa do Mundo.
Tanto que recentemente a União Russa de Futebol (RFS, na sigla local), órgão que administra o futebol no país, lançou uma cartilha em seu site alertando os atletas sobre todas as precauções que devem tomar.
Dentre as mais de 20 recomendações pelos médicos da entidade, as mais curiosas são: tomar cuidado ao consumir carne e ler bem a embalagem e o local de origem -por causa da possível presença de clembuterol-, não tomar chás exóticos e não fumar narguilé, uma espécie de cachimbo d’água.
“Eu não vejo muita relação entre fumar o narguilé e ser pego no doping. A única relação que talvez possa existir é que em alguns lugares ainda usam estes cachimbos para fumar ópio ou haxixe, substâncias que estão na lista de elementos proibidos pela Wada (Agência Mundial Antidoping). Mas um atleta só seria pego se fumasse muito perto da data do exame”, explicou ao blog o médico português Luis Horta, que foi consultor da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) e é um dos principais especialistas sobre o tema no mundo.
A inclusão do veto ao narguilé parece ser mais um puxão de orelha aos atletas. Em 2009, diversos jogadores da seleção local foram vistos em um bar de Moscou fumando o cachimbo na véspera de duelo contra a Eslováquia pela repescagem das eliminatórias da Copa.
A Rússia venceu por 2 a 1 a partida, mas na volta perdeu por 1 a 0 e acabou fora do Mundial da África do Sul.
O episódio foi usado para criticar os atletas e criou um mal-estar entre seleção e jornalistas.
Já as outras recomendações são de fato mais condizentes com a realidade, segundo afirmou Horta.
“A presença do clembuterol na carne é comum em países onde o controle sanitário não é tão rígido como no México e na China. Então é necessário tomar este cuidado”, explicou.
“Já a questão dos chás é mais comum na América Latina, principalmente no que diz respeito ao chá de coca. Basta ver o caso do Paolo Guerrero”, disse Horta em referência ao atacante peruano flagrado em exame antidoping no ano passado com um metabólico da cocaína em seu organismo.
O controle antidoping com os jogadores da seleção russa tem sido bem rígidos nos últimos meses.
Um exemplo disso foi o que aconteceu antes do amistoso contra o Brasil, no último dia 23, em Moscou. Por dois dias consecutivos, todos os jogadores foram testados.
“É claro que os jogadores não gostam de acordar às seis da manhã (para serem testados), geralmente o planejamento é que acordem às nove, mas todos os times estão fazendo isso. O fiscal ficou feliz, coletou todo o sangue e toda a urina. Eu fiquei feliz, os jogadores também. Então, todos ficaram felizes”, ironizou o técnico Stanislav Cherchesov.
Neste mesmo comunicado, a RFS faz questão de exaltar o fato de nenhum jogador de futebol russo que atua em alto nível ter sido pego em exame antidoping.
No ano passado, o jornal “Daily Mail” publicou reportagem no qual dizia que todos os 23 jogadores que disputaram a Copa do Mundo de 2014 pela Rússia teriam feito uso de substâncias ilegais e os casos teriam sido encobertos.
Até hoje, nada foi provado.
Na Copa do Mundo, todos os exames antidoping serão realizados pela Fifa em laboratório de Lausanne, na Suíça. O mesmo procedimento já havia sido adotado na Copa das Confederações. Nenhum caso foi registrado no torneio do ano passado.