No vestiário: champanhe e bagunça marcam 1° título de time na Rússia

Já imaginou ter a possibilidade de entrar no vestiário de um time de futebol campeão logo após o título mais importante de sua história?

Algo impensável no Brasil, onde até mesmo o acesso a treinos é bem restrito, não é verdade?

Mas em Volgogrado, o pequeno Tosno – fundado em 2013 – abriu as portas de seu “espaço sagrado” a alguns jornalistas logo após erguer o primeiro caneco de sua curta história: o da Copa da Rússia.

Na final, na quarta-feira (9), derrotou o Avangard Kursk por 2 a 1.

Até então, a única “conquista” do Tosno havia sido o primeiro lugar de sua zona na terceira divisão em 2013/2014. O torneio, porém, não tem um único campeão.

O blog esteve entre os privilegiados e agora conto aqui o que vi nestes minutos que passei lá dentro.

Quando o acesso foi liberado, o cheiro era de álcool no ar e o piso estava todo molhado.

Resultado de algumas garrafas de champanhe já abertas.

A mesa no centro era uma verdadeira bagunça, com muito suco jogado e jogadores pulando sobre ela e fazendo batucada.

A comemoração era embalada por música e a já tradicional “We are the Champions”, da banda Queen.

A cena do campo, com a taça sendo levantada, mais uma vez foi repetida. Celulares e selfies para todos os lados.

Uma bandeira de Cabo Verde se destacava. Pertencia a Nuno Rocha, atacante da seleção do país e um dos destaques do time que tem sua sede nas proximidades de São Petersburgo.

Não havia bandeira do Brasil, mas dois representantes do país lá estavam. O preparador físico Michel Huff e o meia-atacante Ricardinho, 28.

Quando teve seu nome chamado para um pedido de entrevista até se assustou. Afinal não é tão comum assim ouvir português na Rússia.

Fora do país desde 2010, Ricardinho chegou ao Tosno no começo desde ano após deixar o Estrela Vermelha.

No vestiário, não conseguia esconder a alegria. Era só sorrisos. Quis fazer várias fotos com a taça que veio após uma campanha que teve como ponto mais alto a vitória nos pênaltis sobre o Spartak Moscou, fora de casa, na semifinal em jogo único. Isso depois de empatar em 1 a 1 quase aos 45 da segunda etapa.

“Representa muito para nós este título, ainda mais em um campeonato com a presença de todos os times grandes da Rússia, como CSKA, Spartak, Lokomotiv. Trabalhamos muito duro pensando nesta final”, disse o brasileiro em meio a gritos dos companheiros.

Durante a entrevista, quase acabei sendo “vítima” de um banho de isotônico.

Não seria legal fcar todo molhado e melado com algumas horas de trabalho pela frente. Por sorte, eu, Ricardinho e Bernardo Mello, colega do O Globo, conseguimos desviar.

E assim seguiu o bate-papo no qual Ricardinho seguiu falando sobre a conquista, mas sem deixar de pensar no que vem pela frente. No domingo, o time joga para não cair para a segunda divisão, de onde saiu no ano passado.

Enfrenta o Ufa fora de casa e precisa somar mais pontos do que o Anji Makachkala, que joga fora de casa contra o CSKA. Ambos somam 24. O 15º vai direto para a segundona. O 14º disputa um playoff contra o 3º da segunda divisão.

“Em todos os treinamentos falamos sobre esta necessidade de sair do rebaixamento. Foi para o último jogo, infelizmente, mas temos chances. Como diz o Neymar é 99% de fé”, afirmou Ricardinho.

Preparador físico Michel Huff com a taça entre Nuno Rocha (à esq.) e Ricardinho (Foto: Fábio Aleixo)
Preparador físico Michel Huff com a taça entre Nuno Rocha (à esq.) e Ricardinho (Foto: Fábio Aleixo)

O campeão da Copa da Rússia sempre tem garantida uma vaga na fase de grupos da Liga Europa. Isso, porém, não acontecerá com o Tosno. O clube perdeu o prazo dado pela União Russa de Futebol para apresentar os documentos para garantir a licença da Uefa. Assim, ficará fora e beneficiará o 6º colocado do Campeonato Russo, que pode ser o Ufa, seu rival de domingo.

Mas nos minutos que seguiram a conquista e dentro daquele vestiário, ninguém parecia se lembrar disso ou dar alguma importância. Afinal, haviam acabado de escrever história.

Mas a festa não durou tanto. Saindo do estádio, já tinham de tomar um avião fretado para voltar para casa.

O repórter viajou a Volgogrado a convite do Comitê Organizador da Copa do Mundo