Voluntário mais velho da Copa tem 80 anos, e é fã de Pelé e novelas brasileiras

Nikolai Stiopin tinha 20 anos quando viu pela TV a primeira Copa do Mundo de sua vida. Foi em 1958 e ele lembra dos gols de Pelé e o título da seleção brasileira contra a Suécia.

“Sou fã de Pelé e Garrincha desde esta época. Também gosto do Jairzinho”, contou.

Em 2018, aos 80 anos, terá a oportunidade de estar em um Mundial pela primeira vez, realizando um sonho como ele mesmo define.

E não será um mero espectador.

Será o mais velho entre os 17.040 voluntários selecionados pelo COL (Comitê Organizador Local) e a Fifa para trabalhar na competição nas 11 cidades-sede, em estádios, aeroportos, estações, Fan Fests entre outros espaços e também em serviços de venda de ingressos, catering, controle de doping, etc.

Aposentado e morador de Moscou, Stiopin estará exclusivamente no estádio Lujniki, palco de sete jogos do torneio, incluindo abertura e final.

Vai trabalhar na orientação do público, tanto na parte externa, quanto interna. É feito um revezamento jogo a jogo.

“Espero poder ver o máximo de partidas possível, mas isso vai depender do chefe da nossa equipe de voluntários”, disse Stiopin.

Torcedor do Spartak Moscou, clube mais popular do país, Stiopin atendeu a reportagem da Folha em frente ao estádio do seu time de coração, onde serão realizados cinco jogos durante a Copa, incluindo Brasil x Costa Rica, em 27 de junho.

Stiopin com o gladiador símbolo do Spartak ao fundo (Foto: Fábio Aleixo)
Stiopin com o gladiador símbolo do Spartak ao fundo (Foto: Fábio Aleixo)

Foi lá que ele trabalhou no ano passado durante a Copa das Confederações. Foi um de seus vários trabalhos desde que entrou no mundo do voluntariado em 2013. Sua primeira experiência foi na Universíade de Kazan, naquele ano. Ficava no aeroporto de Sheremetievo em Moscou ajudando a fazer o trânsito entre a área internacional e nacional. Depois esteve também em Sochi nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 e em feiras e exposições na capital russa.

Perguntado se não se aborrecia de trabalhar de graça, respondeu: “O dinheiro não me importa. É algo que faz bem para a alma, poder ajudar as pessoas, fazer amizades e participar de um grande evento como este. Isso é o mais importante”.

Stiopin só fala russo e um pouco de alemão, mas garante que isso não o impede de desenvolver seu trabalho como voluntário e que tudo pode ser resolvido com um sorriso e simpatia.

Na Copa, só trabalhará nos sete dias que o Lujniki receber partidas e precisa estar na arena cerca de seis horas antes do início dos jogos para iniciar a preparação. Mesmo com a idade avançada, diz que não existe cansaço.

“Se fico cansado? Não. Me sinto jovem fazendo este trabalho e estando em contato com as pessoas”.

“Tenho certeza que todos que vierem ficarão encantados com a Rússia. Com o nosso povo e nosso país”.

“Sobre o Brasil? Sei que existem belas praias, faz calor e tem Carnaval. Além disso, as novelas fazem muito sucesso aqui na Rússia. Assisti uma novela muito antiga, Escrava Isaura”, contou.

Stiopin, assim como todos os outros voluntários recebem do COL um uniforme completo confeccionado pela Adidas que consiste de camiseta, bermuda, calça, jaqueta, boné, tênis e uma mochila. Depois do Mundial fica como souvenir.

Além disso, todos eles têm direito a uma refeição completa em um restaurante da organização e um kit de lanche. Transporte gratuito é fornecido aos voluntários nas cidades onde trabalham.

Os 17.004 voluntários foram escolhidos em uma seleção feita após o recebimento de 176.870 inscrições, um recorde na história das Copas. Cerca de 6 mil deles já trabalharam na Copa das Confederações.

A única restrição imposta foi quanto à idade. Nenhum menor de 18 anos pode ser voluntário.

Além disso, as forças de segurança e inteligência fizeram uma varredura utilizando os dados de todos os voluntários para tentar idenfiicar aqueles com suspeitos elos com organizações terroristas ou que já tenham cometido outro tipo de delito.

Os voluntários representam 112 nações, quase o triplo de seleções participantes da Copa.

Uniformes que os voluntários usarão na Copa foram apresentados em maio (Foto: LOC 2018/Divulgação)
Uniformes que os voluntários usarão na Copa foram apresentados em maio (Foto: LOC 2018/Divulgação))

Além dos voluntários ligados ao COL e à Fifa, as cidade-sedes também tem seus voluntários para reforçar o batalhão e atuarem por exemplo nos centro de mídias para não-credenciados. São pouco mais de 18 mil.

Em 2014, na Copa do Mundo do Brasil o número total de voluntários foi semelhante, com 18 mil voluntários do Governo Federal e mais 15 mil do COL/Fifa.

Na época, o Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ) entrou com ação civil pública pedindo que todos os selecionados para o programa de trabalho voluntário da Copa do Mundo fossem contratados com Carteira de Trabalho assinada e que o COL pagasse R$ 20 milhões de indenização por dano moral coletivo.

A ação foi negada por George Luis Leitão Nunes, juiz titular de Vara do Trabalho citando a Lei Geral da Copa que previa este tipo de atividade.

Até o momento na Rússia nenhum tipo de ação contra o trabalho dos voluntários foi ajuizada.

OS VOLUNTÁRIOS DO COL/FIFA

TOTAL = 17.040
NÚMERO DE INSCRIÇÕES = 176.870

DIVISÃO POR SEXO
36% HOMENS
64% MULHERES

DIVISÃO POR PAÍS
93% RUSSOS
7% ESTRANGEIROS – REPRESENTAM 112 PÁISES, INCLUINDO O BRASIL

DIVISÃO POR FAIXA ETÁRIA
IDADE MÉDIA DOS VOLUNTÁRIOS – 24 ANOS
VOLUNTÁRIO MAIS VELHO – 80 ANOS

18 A 25 ANOS – 80%
26 A 40 ANOS – 15%
41 A 60 ANOS – 3,5%
MAIS DE 60 – 1,5%

AS 7 LÍNGUAS MAIS FALADAS
1 – RUSSO
2 – INGLÊS
3 – ALEMÃO
4 – ESPANHOL
5 – FRANCÊS
6 – ÁRABE
7 – ITALIANO

16.133 KM
Será a viagem mais longa feita por um voluntário. De Masterton, na Nova Zelândia, a Saransk.